Eu sou um texto. Minha anatomia é uma mistura de ossos, costelas e palavras. Sou feliz anatomicamente. Sou um texto tecido pelas compreensões que faço de mim, dos outros e dos inúmeros universos que transito. Tem dias que movimento, sem necessidade, vírgulas e exclamações. Sinto-me bem com as interrogações do meu corpo. Minha carne é estampada por signos que, isoladamente, alimentam os preconceitos do globo ocular dos “outros”. Mas se os “outros” tentarem entender o todo, vão descobrir as metáforas, ironias e hipérboles de um humano que transborda idéias e emoções codificadas. Meu suor exala para o mundo exterior todas as frases ou expressões desnecessárias. Tenho medo do ponto final. Por isso insisto nos três pontos. Não me acostumo com o travessão e a crase – eles me limitam. Não conheço todos os personagens que habitam em mim. Uns são simpáticos, conversadores. Outros nem falam. A maioria desses personagens não pede licença pra falar. Acho que não os eduquei corretamente. Eu também sou um texto inacabado com espaços brancos para serem preenchidos. Contos, fábulas, quadrinhos, dissertações. Há infinitas possibilidades de redigir a si próprio. Eu procuro as mais criativas e loucas formas. Não sou geometricamente estruturado. Existem em mim imperfeições cruéis. Não uso dicionários. Utilizo a metalinguagem para explicar até o inexplicável. E por fim, sou um jogo de palavras cruzadas de um jornal que publica as mentiras reais de um apaixonado...
Saulo de Tasso Russo Barreto