domingo, 18 de novembro de 2007

JOGO

Valete e dama de copas. Puxo no amontoado de cartas a esperança de ser o campeão. Cinco de paus. Acendo um cigarro. A fumaça irrita o jogador da esquerda. O da direita descarta um coringa. O coringa me diverte, me sinto um rei diante dos servos. Ais de ouro. O pano verde da mesa começa a absorver as expectativas da sorte. Sorte? Não passa de um fantasma mal assombrado que persegue todos os que acreditam na felicidade. Observo a fumaça da nicotina. Novamente minha vez de jogar. Como se tivesse de frente a um leão indomável, meu peito dispara ondas vibratórias de ansiedade. A boca seca pede a última gota do uísque do meu copo. Tremo. Só falta o Rei. O Rei de copas. A majestade comandante de corações vermelhos. Corações que habitam peitos de fracos, covardes, românticos e insanos. Esse Rei domina todos os meus sentidos. O baralho empilhado reflete uma trajetória de possíveis enganos e uma única abstração de acerto. Rei de espada. Degolado pela lâmina da frustração. Cortes sobre a minha pele derrama sangue frio. Busco o Rei. O Rei de Copas. Chegará trazendo minha coroa para dividirmos o reino, ou virá como bandido e me fará prisioneiro dos meus próprios sonhos? Acho que estou delirando. Trago, coloco as cinzas no cinzeiro, volto a me concentrar e domino novamente a minha tranqüilidade habitual. O relógio na parede emite um som desimportante. A respiração do jogador da esquerda denuncia que também esta armado. Será pelo Rei de copas? Estou pronto para guerra.