segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

RIOARÁ

RIOARÁ

Esse rio que se curva
Na nascente passará.
Espera um passsarinho
Com mil cantos pra entoar.



Triste rio que congela.
Muito sol e pouco ar.
Vê moça bonita,
Sentada, com seu vestido
Com medo do carcará.



No teu leito, pequeno rio,
Um poeta te escreve.
E passa o dia a criar:
Trovas para a moça.
Pragas pro carcará.



Rio que vomita.
Histórias que vou te contar.
Teu percurso é infinito.
Tua boca não te cala.
Mil raízes nascerá.



Esse rio que se afoga.
Que afunda em alto mar.
Vem e leva embora
A moça bonita.
E meu coração chorará.



Choro de tristeza.
Rio vou te enforcar!
Gritos e lamúrias
Da tua bocaGritará.


E sem piedade
Te jogarei abismo abaixo.
Rio podre e fétido
Tuas águas malditas
Que por mim secará.

E se é um consolo,
Na lembrança irá ficar.
A imagem daquela moça
Que não sabe
Que esse rio é verbo que não pode conjugar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Me odeio por ter te amado.

Para quem oferto essa lágrima? Nem queria chorar. Ela é doce. A lágrima é doce. Isso eu não consigo entender. Como um produto doce nasce de ingredientes amargos? Vou ofertar essa lágrima para minha mãe. Ela merece ver os anos que passou escondendo a realidade. Não me disseram que viver dói. Pensando bem, dedico essa lágrima para meu espelho. É. Para meu espelho vai essa lágrima; essa única lágrima. Ele merece chorar junto comigo. Esse espelho mentiroso, mesquinho. És fútil espelho. És vaidoso, sujo. Tenho medo do meu espelho. Ele fica na parede, próximo do cabide em que coloco minhas roupas suadas. Suor são as lágrimas do corpo. Não! Deus, você merece essa lágrima. Sim, você mesmo! Não consigo entender essa brincadeira. Oferto essa lágrima para a cidade. A cidade e todo o seu preto, toda a sua cor fria. Seus prédios, suas buzinas, seus stresses, suas ilusões, suas ruelas, seus estrupros, suas mortes, balas perdidas, favelas, ternos, cervejas, carros... Oferto essa lágrima para o sexo. Sem ele conseguiria domar meus instintos. E o que me acontece é que não tenho controle próprio. Vivo submerso em espamos de desejos. Peço por carne e ganho ilusões. Sonho com casa e ganho motel. Tento relaxar e meus nervos gozam vontades absurdas. Meu lençol tem gosto de desesperança e cor de fraqueza. Meu travesseiro fala uma língua que não consigo entender . E o despertador chama para um mundo que mete medo. Entretanto, para quê mentir? Essa lágrima vai para você, por ter me deixado um retrato. Por ter sussurrado no meu ouvido. Por ter beijado meu pescoço, me chamado de "amor" e pelo "amor" ter me matado.
Dedicado para alguém que desconheço.

domingo, 18 de novembro de 2007

JOGO

Valete e dama de copas. Puxo no amontoado de cartas a esperança de ser o campeão. Cinco de paus. Acendo um cigarro. A fumaça irrita o jogador da esquerda. O da direita descarta um coringa. O coringa me diverte, me sinto um rei diante dos servos. Ais de ouro. O pano verde da mesa começa a absorver as expectativas da sorte. Sorte? Não passa de um fantasma mal assombrado que persegue todos os que acreditam na felicidade. Observo a fumaça da nicotina. Novamente minha vez de jogar. Como se tivesse de frente a um leão indomável, meu peito dispara ondas vibratórias de ansiedade. A boca seca pede a última gota do uísque do meu copo. Tremo. Só falta o Rei. O Rei de copas. A majestade comandante de corações vermelhos. Corações que habitam peitos de fracos, covardes, românticos e insanos. Esse Rei domina todos os meus sentidos. O baralho empilhado reflete uma trajetória de possíveis enganos e uma única abstração de acerto. Rei de espada. Degolado pela lâmina da frustração. Cortes sobre a minha pele derrama sangue frio. Busco o Rei. O Rei de Copas. Chegará trazendo minha coroa para dividirmos o reino, ou virá como bandido e me fará prisioneiro dos meus próprios sonhos? Acho que estou delirando. Trago, coloco as cinzas no cinzeiro, volto a me concentrar e domino novamente a minha tranqüilidade habitual. O relógio na parede emite um som desimportante. A respiração do jogador da esquerda denuncia que também esta armado. Será pelo Rei de copas? Estou pronto para guerra.