Quero rir das vossas caras caricatas. As mesmas caras que eu vejo na TV. As caras impunes, vencidas pela monotonia da rotina planejada. Quem vos acorda é o despertador? Eu me levanto com o ruído dos personagens dos meus sonhos. Sim, eu sonho. E nos meus sonhos não existe espaço para as palavras baratas, compradas ou alugadas que saem cuspidas de bocas mercantis. Minhas propagandas estão no meu riso irônico, nos ambientes que desprezo, dos comentários que dispenso e da antipatia que lanço àqueles que experimento e não encontro sabor. Gosto de devorar as pessoas e perceber o tempero que elas tem a me oferecer. Ultimamente minha língua adaptou-se ao insosso. Quero rir pela certeza da inveja que provoco naqueles que procuram o otimismo improvável do dia-dia. Meu riso para os que se sentem superiores, para os metódicos que não entendem que alguns nascem para contrariar as leis e regras, mesmo que elas sejam estúpidas e banais. Meu gingado e musicalidade para os usuários de blazers. Minha androgenia para machos e fêmeas que se limitam na seleção natural dos imbecis. Meu grito irritante nos ouvidos dos que povoam espaços cercados por arames ideológicos. Saio pela rua como louco e como louco rodopio pelas palavras, pelas imagens fotografadas dos outdoors e pelos papéis sujos do jornal. Sou filho do Verbo. Irmão dos pronomes possessivos. Sou a conjugação exata do presente do indicativo. Sou mais, sou o futuro imperfeito dos sujeitos que teimam em se ocultar.
Saulo de Tasso Russo Barreto