O amarelo deitou-se com o azul. Depois de demorados beijos, o amarelo resolveu tirar, sem pressas, a roupa do azul. A respiração das cores estava ofegante. O quarto era uma suíte imperial. O motel estava lotado. Vez ou outra se escutava rangidos em quartos vizinhos. O azul era mais comportado e pediu para que o amarelo fizesse um strip-tease. O amarelo soava frio. Hesitou um pouco, mas ficou de pé em cima da cama e começou a tirar suas peças íntimas. O azul esticou o braço e conseguiu pegar o controle do som. Ao apertar play, uma melodia sensual invadiu o quarto inspirando mais ainda o amarelo que já dançava freneticamente. Depois de ver muitas reboladas, azul puxa pelo braço sua companhia e lasca um beijo ao mesmo tempo que pressionava todo seu corpo no corpo totalmente nu do amarelo. As bocas meladas de saliva. Os olhos se encontrando e desejando mais um ao outro. As pernas se cruzando desarrumando lençóis e jogando travesseiros no chão. Respiração úmida, ofegante, rápida. Mãos arranhando costas. Peitos se tocando. A nuca sendo explorada pelos lábios. As cócegas. Os arrepios. Os palavrões. Os imperativos dos verbos pronunciados. A voz rouca, enfática. No chão, a solidão das roupas esquecidas e o lamento das taças de vinho ainda pela metade. O quarto estava em meia luz. O amarelo e o azul deitado projetava na parede uma silhueta verde. A sombra verde desenhava os contornos dos corpos. Celulares e carteiras em cima da mesa. Porta fechada a chave. O relógio em ritmo compassado. Depois de um tempo, gozo. Líquidos escorrendo. Suor. Nojo. Banho demorado. Azul destranca a porta e entra no carro. Depois entra amarelo ainda abotoando a camisa. No quarto quarteirão azul para o carro. Amarelo desce e diz adeus. Azul acelera. O dia está claro. No semáforo o sinal vermelho. Azul parado na faixa de pedestres derrama uma lágrima, esperava um final um pouco mais colorido.
Saulo de Tasso Busso Barreto
2 comentários:
Semiótica pura seu texto, bombou!
adorooooooo, porra é foda escolher!
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